segunda-feira, 7 de novembro de 2016
Uma tarde na escola Bráulio Franco
Na última quinta-feira estive no Centro Estadual de Ensino Fundamental e Médio em Tempo Integral Bráulio Franco, a "Escola Viva" de Muniz Freire, para ministrar uma palestra junto aos alunos do curso técnico da área de informática. E estando em meio às discussões sobre a implantação deste mesmo programa de escola em tempo integral aqui em Iúna, não pude deixar de avaliar alguns aspectos concernentes a dinâmica da escola, ressaltando algumas coisas que me chamaram bastante a atenção, sobre as quais quero compartilhar para melhor avaliarmos o caminho a ser trilhado nesta nova proposta.
Que a escola tem um clima diferente, uma dinâmica diferente, uma vibe diferente, é inegável. Se bem que, pelo que percebi, cheguei na escola por volta de 13h, exatamente na hora do almoço. E neste caso, óbvio, o número de alunos no pátio era muito grande. Gente espalhada por todo canto: quadra, refeitório, corredores, salas. Acho que vi alguns coordenadores de pátio, inclusive orientando os meninos para o fim do horário de almoço, e reinício das atividades. Mas atentei para o fato de que eles faziam isso de forma bem descontraída, nada de confronto, briga, ou coisa parecida. Vi inclusive alunos assumindo a tarefa de chamar a atenção dos outros alunos, menos atentos, sobre o fim da folga. No resto é igual a qualquer intervalo de qualquer escola - alunos espalhados pela escola, interagindo mutuamente, jogando bola na quadra, jogando baralho no refeitório (a febre do momento).
Mas tem outra coisa que me tocou logo que eu cheguei. Quase todos os alunos que se aproximavam de mim me cumprimentavam. Não sei se eu tava com aquela cara de "não sou daqui", ou se eles tiveram aquela sacada de "nunca vi esse cara aqui", ou se junto os dois no famoso "tô perdido, me ajuda". Mas acho que não, porque eu nem estava perdido. Entrei na escola, fui recebido com muita simpatia pelo guarda, que logo se prontificou a me ajudar, porque ele, melhor do que qualquer outro, deveria saber que eu não era dali. Daí ele logo me encaminhou para outra pessoa, que disse que o professor Dercílio, que me receberia, deveria chegar dali a poucos minutos.
Bom, pedi licença, entrei escola adentro, e dei uma espiada geral. Logo os alunos responsáveis pela palestra me encontraram e, com muita simpatia, me cumprimentaram, buscando saber se eu estava bem e se gostaria de ir para o Auditório. Naquele momento disse que aguardaria um pouco mais, mas não deram 2 minutos, acabei mesmo subindo as escadas, sendo orientado por outro aluno para o local marcado, onde fui recebido, mais uma vez com muita educação e simpatia, por outra aluna.
Já dentro do Auditório o professor que acompanhava a turma naquele horário - o prof. Cristiano - me cumprimentou, e ali trocamos uma conversa sobre a Escola Viva e sua dinâmica diferenciada, e sobre o processo pelo qual também estávamos passando em Iúna. Outros alunos, também responsáveis pela organização da palestra, vieram ao meu encontro me receber, no momento em que resolvi ir ao palco avaliar a estrutura a fim de verificar se teria como usar o que havia planejado. E aqui vale ressaltar que o professor Cristiano, em momento nenhum, interferiu no trabalho dos alunos enquanto equipe organizadora. Na real: eles, os alunos, eram mesmo os "donos do pedaço". Eles estavam, inclusive, ajustando ali uns últimos detalhes de cortina, projetor, microfone, e isso tudo ao som de alguma música que eu não consegui identificar. Estava meio bagunçado, meio sem ordem, não vou negar, mas ao mesmo tempo não tinha ninguém reprovando aquele estilo de trabalho, como se todos estivessem certos de que estava tudo sob controle.
Diante daquela "meia" desordem, disse a uma das organizadoras que estaria sentado na plateia, esperando que os meninos terminassem de ajustar o que fosse necessário, salientando que precisaria usar o meu computador para projeção dos slides, ao contrário do que eles haviam sugerido, sobre passar os arquivos para o computador da escola, para que não precisássemos mudar o cenário que eles já haviam preparado. Não se passaram 2 minutos até que aquela mesma aluna super simpática que havia me recebido na pátio, viesse me informar que os meninos já haviam terminado, e estavam me chamando para montagem dos equipamentos. Eles então desmontaram tudo o que haviam montado, e montamos os equipamentos exatamente da forma como eu havia planejado. Volto a ressaltar: não tinha professor nenhum ali para dizer se seria assim ou assado. Alias, tinha - o Cristiano - mas não seria ele a dizer para os meninos que as coisas deveriam ser feitas.
Depois de tudo montado, ainda tive tempo de caminhar pelos corredores e verificar que o que menos tinha, naquele momento, eram salas de aula tradicionalmente constituídas de alunos e professores. Vi salas de aula vazias, salas com alguns poucos alunos em atividades específicas - estudo dirigido ou alguma coisa do tipo. Mas também não tinha mais aluno espalhado pelo pátio. Onde eles estavam? Não faço a mínima ideia. Em algum momento achei tudo muito solto, muita farra e pouco controle. Mas também acho muito prematuro julgar desta forma. Fato é que começamos a palestra 20 minutos depois do tempo previsto. Nem tanto por conta da organização, e mais por conta da entrada dos alunos no Auditório.
A palestra mesmo foi sensacional. Foi minha primeira experiência nesse sentido, e foi tudo muito bom. Foi corrido, algumas ideias ficaram pra trás. Mas deu tudo certo. Eram várias turmas, do técnico e do regular, acompanhadas dos seus respectivos professores - uns 4 ou 5. Nos divertimos muito - pelo menos eu me diverti horrores; e consegui efetivamente cumprir com o objetivo proposto: apresentei a ideia, fiz a explanação do conteúdo e lancei a discussão para os alunos. Acho que eles gostaram. Ao final, claro, todos saíram em debandada, acho que para o intervalo da tarde. Daí fui encaminhado pelo professor Dercílio até sala dos professores, para me apresentar aos demais, e para o tradicional cafezinho antes do retorno para Iúna. E vou dizer aqui a minha impressão sobre como podemos avaliar a satisfação das pessoas em determinado ambiente: as caras eram boas. Boas no sentido de quem não está incomodado de estar ali. Me cumprimentaram cordialmente, tomei um café, e parti.
Qual a impressão final disso tudo: tem sim, uma vibração diferente. Tem um jeito diferente, um tratamento diferente, uma ordem diferente. Em alguns momentos me passou um ar de desordem, mas acredito estar um tanto equivocado neste sentido. Queria ver mais de perto. Quero acompanhar, pra saber se o resultado será positivo, e torço pra que seja. Porque uma certeza eu tive: eu vi, ali, alunos vivendo a escola.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário