domingo, 1 de março de 2020

A importância do indivíduo e o valor do ser social


Trabalho esta reflexão nas aulas de introdução ao estudo da Sociologia, nas turmas de ensino médio, buscando fazê-los refletir sobre como somos julgados e valorizados a partir das nossas ações, em detrimento ao que temos dentro de nós e, diante disso, como é importante estarmos atentos ao nosso comportamento e às nossas atitudes no dia a dia. "Não é o que eu sou por dentro, mas é o que eu faço que me define", do filme Batman Begins.
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Que importância você tem no mundo? Que importância tem o seu nome e o seu sobrenome? Você pode pensar, “muita, cada um de nós é muito importante!”. Será? Vejamos: se você fosse a única pessoa viva na Terra, e morresse por algum motivo qualquer, quem sentiria a sua falta ou ficaria triste? Ninguém, absolutamente ninguém!! Então qual é a sua importância nesse mundo, enquanto indivíduo? Até as plantas agradeceriam se você não existisse pois é fato que, num espaço onde o homem não atua transformando a natureza, ela própria dá conta de se desenvolver, de tomar os espaços, com ordem e sustentabilidade, até para se recuperar da degradação causada pelo próprio homem.

Mas e Deus? Se somos todos filhos de sua criação de amor, ele nos ama e sentirá a nossa falta, independente de qualquer coisa. “Ele olha por cada um de nós”, você pode pensar. Então vamos pensar esta possibilidade, de Deus sentir a nossa falta, se morrermos, para entender como isso funciona. Para que você acredite que Deus vai sentir a sua falta se você morrer, é preciso primeiro acreditar que você é, verdadeiramente, resultado da criação Dele, do amor dele por você, e não que Deus nos faz a todos de um punhado de barro. Porque se assim o fosse, se Ele simplesmente o criasse como a todos os outros indivíduos, a chance dele não saber nem o seu nome é muito grande. Mas ele sabe! E não porque ele te fez, mas porque ele te ama e vê em você uma criatura especial. Daí você passa então a acreditar que, para além da criação, existe uma relação entre você, filho da criação, e Ele, Pai, e é por isso que ele te ama e vai sentir a sua falta. Na verdade, nem vai, porque, com a morte, você vai passar a viver um encontro verdadeiro com Deus, no céu, e ele então não vai ficar triste, mas feliz. E esta felicidade não estará relacionada a você enquanto indivíduo, ou por conta do seu nome, ou qualquer outra coisa que seja relacionada a você, mas à RELAÇÃO de amor que existe entre vocês. Se não de amor, de preocupação, de proteção, de carinho, mas uma RELAÇÃO.

Da mesma forma, é importante considerarmos que a importância que temos no mundo enquanto indivíduos é quase nula, ou nenhuma. Fizemos o exercício de imaginar que fossemos sozinhos no mundo. Mas vamos agora imaginar que estamos num mundo cheio de pessoas, mas que nenhuma delas te conhece, e daí eu volto a te perguntar: se você morrer, que falta você vai fazer? Se você não conhecesse a sua mãe, ou o seu pai, ou uma pessoa de quem você muito, e essa pessoa morresse, que falta ela faria na sua vida?

Imagine que, não sendo eu o professor conhecido de vocês, estivesse com vocês um professor novato, com o qual você não teve nenhum tipo de relacionamento. E para além, imagine um momento anterior a este, em que este professor nem foi apresentado a vocês. Não sendo eu, seria o professor Walfredo, de Sociologia. Você ainda não o conhece e ele ainda não foi contratado pela escola. Ele está dando aula numa escolinha bem pequena na comunidade do Chapéu, em Domingos Martins. Pois bem, o professor Walfrado morreu!! Foi acometido por um infarto fulminante, junto com um derrame cerebral, e atingido por um raio, tudo ao mesmo tempo. Morreu!! Agora vamos avaliar: quem entre nós conhecia o Walfredo? Ninguém! Que falta ele vai nos fazer? Nenhuma!! Walfredo morreu, antes ele do que eu!!! Isso porque nós não temos nenhum tipo de RELAÇÃO com o Walfredo, então a nossa rotina, o nosso cotidiano, a nossa vida, não vai mudar.

Mas, olhando por outra perspectiva, o que será que os meninos daquela escolhinha de Domingos Martins sentiram sabendo da morte do Walfredo. Certamente todos ficaram muito tristes, ainda mais sabendo que o Walfredo era um ótimo professor, que brincava com os meninos durante as aulas, que promovia festas e eventos na escola para que os pais também pudessem participar, que resolvia inclusive alguns problemas entre as famílias daquela comunidade. E não é porque ele era o Walfredo. Ou Walfredo Ronch, Lopes, Junqueira, ou qualquer sobrenome que você quiser. Nem porque ele tinha um número de identidade tal, e um CPF tal. A falta dele e o sentimento de tristeza por conta da morte dele, era um reflexo de como ele se relacionava com as pessoas. Não é pelo indivíduo, mas pelas RELAÇÕES que construiu e da ATITUDES que ele tinha diante dessas relações.

Não é pela pessoa, pelo indivíduo, pelo nome ou sobrenome, ou pelo documento que a pessoa carrega, mas pelas RELAÇÕES que a pessoa constrói ao longo da vida, e muito pelo que a pessoa faz por conta dessas relações. Não é pela importância individual, mas pelo valor social.