texto retirado do livro Sociologia para o ensino médio, de Nelson Dacio Tomazi (cap. 18, pgs. 174-175)
No mundo globalizado em que vivemos, tendo o nosso cotidiano invadido por situações e informações provenientes dos
mais diversos lugares, é possível afirmar que haja uma cultura "pura"? Até que ponto chegou o processo de
mundialização da cultura?
Em seu livro Culturas híbridas, o pensador argentino Néstor García Canclini analisa essas
questões. Lançando um olhar sobre a história, ele declara que, até o século XIX, as relações culturais ocorriam entre os
grupos próximos, familiares e vizinhos, com poucos contatos externos. Os padrões culturais resultavam de tradições
transmitidas oralmente e por meio de livros, quando alguém os tinha em casa, porque bibliotecas públicas ou mesmo
escolares eram raras. Os valores nacionais eram quase uma abstração, pois praticamente não havia a consciência de uma
escala tão ampla.
Já no século XIX e início do século XX, cresceu a possibilidade de trocas culturais, pois houve um grande
desenvolvimento dos meios de transporte, do sistema de correios, da telefonia, do rádio e do cinema. As pessoas
passaram a ter contato com situações e culturas diferentes. As trocas culturais efetivadas a partir de então ampliaram as
referências para avaliar o passado, o presente e o futuro. O mundo não era mais apenas o local em que um grupo vivia.
Tornou-se muito mais amplo, assim como as possibilidades culturais. A cultura nacional passou a ter determinada
constituição e os valores e bens culturais de vários povos ou países cruzaram-se, com a consequente ampliação das
influências recíprocas.
No decorrer do século XX, com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação, o cinema; a
televisão e a internet tornaram-se instrumentos de trocas culturais intensas, e os contatos individuais e sociais passaram
a ter não um, mas múltiplos pontos de origem. Desde então as trocas culturais são feitas em tal quantidade que não se
sabe mais a origem delas. Elementos de culturas antes pouco conhecidas aparecem com força em muitos lugares, ao
mesmo tempo. As expressões culturais dos países centrais, como os Estados Unidos e algumas nações da Europa,
proliferam-se em todo o mundo. As culturas de países distantes ou próximos se mesclam a essas expressões, construindo
culturas híbridas que não podem ser mais caracterizadas como de um país, mas como parte de uma imensa cultura
mundial.
Isso não significa que as expressões representativas de grupos, regiões ou até de nações tenham desaparecido.
Elas continuam presentes e ativas, mas coexistem com essas culturas híbridas que atingem o cotidiano das pessoas por
meios diversos, como a música, a pintura, o cinema e a literatura, normalmente fomentados pela concentração crescente
dos meios de comunicação.
Alguém poderia perguntar: Por que essas formas particulares, grupais, regionais ou nacionais
deveriam existir no universo cultural mundial, já que vivemos num mundo globalizado? Em seu livro Artes sob pressão:
promovendo a diversidade cultural na era da globalização, o sociólogo holandês Joost Smiers responde que assim haveria
a possibilidade de uma diversidade cultural ainda maior e mais significativa: haveria uma democracia cultural de fato à
disposição de todos. Em suas palavras: “A questão central é a dominação cultural, e isso precisa ser discutido com
propostas alternativas para preservar e promover a diversidade no mundo”.
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
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